sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Parece cocaína, mas é só tristeza.


"Talvez o que vem de dentro não seja tão sensato assim. Talvez o que eu quero, não seja o que eu quero tanto assim. E meu desejo mais oculto é sem puder e meu mistério mais sincero não é tão puritano assim. Talvez tua cidade.

Aparecem os olhos caídos, semblante de dureza sem fim. São teus olhos e teus gritos, seus grifos e seus livros, teu cansaço dividido em cinco no fio da navalha e meus temores nascem deste cansaço e desta solidão.

Talvez peleje contra a vida em busca da saída obliqua, talvez desista, exista".

J.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Meia volta.

Quando a noite cai, Lucy sai pela porta dos fundos e escala a calha até o telhado para contemplar as estrelas. Todo barulho estranho para sua mãe são apenas gatos. Parece contemplamento com demasiado romantismo, no entanto, é mistério. Pois há uma doce de mistério nos vértices da noite, nos cantos dos sonhos. Logo, Lucy, reúne tempo de suas poucas horas para solitariamente sentir-se unida ao universo só.
Do telhado de sua casa pode-se ouvir o senhor Genco, um velho ítalo-americano veterano de guerra que pontualmente às vinte horas de cada dia de sua vida ouve clássicos dos anos cinquenta em seu pré-histórico tocador de discos.
Lucy acompanha os duetos da época de belas vozes e péssima sonoplastia, mas a trilha sonora de uma vida inteira pode colorir novos olhares como obra do destino, por acidente. Isto tem este sabor. Afinal, quantas guerras teriam passado aqueles discos até chegar teu som ao telhado de ouvidos adolescentes sedentos de cultura e paixão, com teus desejos em ebulição, derramando volúpia e excitação em tudo que toca no compasso de cada acorde.
Lucy viaja distante da abertura da noite e volta que volta. Maldita seja a hora da volta, pois é como queda do telhado, queda livre rumo ao chão e que se perca essa realidade inventada de uma astronauta improvável.

Quem viaja nas estrelas, delas, só quer a fuga.

J.