quinta-feira, 17 de março de 2016

Na voz nada se esconde! Em seu tom, seu teor ou teu sabor, não há sombras, não há canto ou vértice, na voz nada se esconde. Na voz que ecoa os pensamentos ao ler estas palavras não há medo nem arrependimento, somente o sentimento terno de querer-te e não ter-te.
Das rosas da noite nem das orquídeas do dia, das flores do amor ou dos espinhos da dor, de nada poderá se esconder, de nada vale o saber se me roga um pecado qualquer. Então porque, porque não pecar?
Eu quero ser um pecado permitido, penoso, bem humorado, gozado como deveria ser. E se dentro de nosso ego inflado não houver punição para nossos desejos, que sejam eles efeitos dos teus beijos. Que sejam crescentes e que se espalhem pelo corpo embebido de paixão, fulminante, ardente com o fogo de um vulcão.
Que sejam desejos e apenas....

Que sejam.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Adele - Hello

Only

Noite fria a dentro e pesadelo não acaba. Tenho contado as horas para partir e não mais pedir aos céus que me carregue os olhos da alma, mas só por hoje eu não estou aqui para falar das dores do presente ou das amarguras do passado, pois que minha presença seja real e intensa. Que minhas palavras soltas no ar sejam apenas palavras e caiam na teia fina de seus pensamentos como luvas de seda pura.
E quando as nuvens densas deixarem os céus, os raios do teu brilho vão tomar as nossas vidas, a pureza dissimulada das tuas ações vão florescer no jardim do meu corpo e nada estará além de duas almas que se amam.

Os destinos se cruzam novamente e só por hoje estou aqui para falar de amor. Amor sem rótulos, sem títulos, sem tom, sem nome, sem culpa, o mel em calda pura e simplesmente, o amor.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Oscar Wilde - O Príncipe Feliz

“Eu poderia amá-la[3]?” disse a Andorinha, que gostava de ir direto ao ponto, e junco curvou-se, numa pequena saudação. Então ele voou várias vezes em torno dela, tocando a água com suas asas, provocando ondulações prateadas. Essa era sua maneira de cortejá-la, e ele assim o fez durante todo o verão.


“Trata-se de uma fixação ridícula”, gorjearam as outras Andorinhas; “ela não tem dinheiro algum, e além do mais, tem um monte de parentes”.

Sim, eu sou do contra.

E não é para aparecer, é porque não me conformo, porque não aceito ser conformado. Porque não concordo com o que está acontecendo com este país, porque não gosto de fazer parte da massa inerte e ignorante da humanidade. Sou do contra porque me sinto bem em um grupo pequeno e seleto de pessoas que pensam. Pessoas que não necessariamente são melhores do que as outras, mas de pessoas que tentam ser melhores que a si mesmo.

Sou dos que dizem não quando posso justificar a negativa. Sou dos que dizem sim quando a positiva é argumentação, é discussão, respeito em discussão. 

Não elogio o óbvio por mais genial que possa parecer, não admiro a atitude incrível de alimentar uma criança carente porque isso deveria ser normal e não admirável. Eu não cultuo milagres de existência ou enriquecimento, mas cultuo caráter, força de vontade e mérito próprio.

Não ouço as mesmas músicas que vocês, não canto as mesmas letras que vocês. Eu sou do gosto contra, porque enquanto houver diversidade, haverá felicidade.

Enquanto o povo não se interessar pelo significado das palavras, vão continuar amarrados em coleiras apertadas latindo funk ou qualquer outra besteira por ai. Um país que gasta milhões nas ruas e avenidas com o carnaval merece a crise que sofre, merece os políticos que têm. Um país que recrimina mães amamentando seus filhos em locais públicos, mas assiste pornografia explicita a qualquer horário do dia nas globelezas da vida merece a merda em que está e não tem o direito de reclamar. Um país que queima ônibus para protestar contra o preço dos ingressos merece o lixo em que vive. Um país que prefere gastar milhões com festas olímpicas, com cadeias e deixa de investir na infraestrutura das escolas, no salário dos professores e na remuneração psicológica dos professores.
 
Sintam-se no direito de odiar a quem odeia, sintam-se no direito de amar a quem ama, mas não se esqueçam que abaixar a cabeça e aceitar pode ser cômodo, mas se levantar e lutar mesmo que a vitória seja apenas o aprendizado restante na experiência de saborear o gosto amargo de uma derrota (que essa parte fique bem clara) sempre lhe fará completo, ou mais próximo de completar-se.

Joe

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Lute com determinação, abrace a vida com paixão, perca com classe e vença com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito bela para ser insignificante.” 

Apocalipse cor de rosa.

Teu andar não cabe em um sapato barato de borracha, teu quadril não cabe na marca do sol em tua pele, teu olhar não cabe nos teus olhos. E até a dor de cores frias colorindo as nossas vidas pode dar espaço ao arco-íris de sedução que salta da tua boca de encontro ao horizonte.

É o fim, aproxima-se da vitima destilando seu veneno com a voz dissimulada e cai por entre os dedos como cinzas ainda quente depondo-se em seu cendrário. Tu queres a luz da lua em uma noite plena e queres o calor da madrugada ensopando a pele. Tu queres o salivar da boca com sabor salgado, o degustar do gozo de aroma amargo.

Na saída deixa um rastro de perfume, o peito rasgado e a porta aberta, deixa o dia do julgamento final, o apocalipse cor de rosa.

Joe


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O Penteado (Dom Casmurro)

Capitu deu-me as costas, voltando-se para o espelhinho. Peguei-lhe dos cabelos, colhi-os todos e entrei a alisá-los com o pente, desde a testa até as últimas pontas, que lhe desciam à cintura. Em pé não dava jeito: não esquecestes que ela era um nadinha mais alta que eu, mas ainda que fosse da mesma altura. Pedi-lhe que se sentasse.
-- Senta aqui, é melhor.
Sentou-se. «Vamos ver o grande cabeleireiro», disse-me rindo. Continuei a alisar os cabelos, com muito cuidado, e dividi-os em duas porções eguais, para compor as duas tranças. Não as fiz logo, nem assim depressa, como podem supor os cabeleireiros de ofício, mas devagar, devagarinho, saboreando pelo tacto aqueles fios grossos, que eram parte dela. O trabalho era atrapalhado, às vezes por desazo, outras de propósito, para desfazer o feito e refazê-lo. Os dedos roçavam na nuca da pequena ou nas espáduas vestidas de chita, e a sensação era um deleite. Mas, enfim, os cabelos iam acabando, por mais que eu os quisesse intermináveis. Não pedi ao céu que eles fossem tão longos como os da Aurora, porque não conhecia ainda esta divindade que os velhos poetas me apresentaram depois; mas, desejei penteá-los por todos os séculos dos séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um número inominável de vezes. Se isto vos parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena, nunca pusestes as mãos adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa...Uma ninfa! Todo eu estou mitológico. Ainda há pouco, falando dos seus olhos de ressaca, cheguei a escrever Tétis; risquei Tétis, risquemos ninfas; digamos somente uma creatura amada, palavra que envolve todas as potências cristãs e pagãs. Enfim, acabei as duas tranças. Onde estava a fita para atar-lhes as pontas? Em cima da mesa, um triste pedaço de fita enxovalhada. Juntei as pontas das tranças, uni-as por um laço, retoquei a obra, alargando aqui, achatando ali, até que exclamei:
-- Prompto!
-- Estará bom?
-- Veja no espelho.
Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu? Não vos esqueçais que estava sentada, de costas para mim. Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com as mãos e ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo. Inclinei-me depois sobre ela, rosto a rosto, mas trocados, os olhos de um na linha da boca do outro. Pedi-lhe que levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço. Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu.
-- Levanta, Capitu!
Não quis, não levantou a cabeça, e ficámos assim a olhar um para o outro, até que ela abrochou os lábios, eu desci os meus, e...
Grande foi a sensação do beijo; Capitu ergueu-se, rápida, eu recuei até à parede com uma espécie de vertigem, sem fala, os olhos escuros. Quando eles me clarearam, vi que Capitu tinha os seus no chão. Não me atrevi a dizer nada; ainda que quisesse, faltava-me língua. Preso, atordoado, não achava gesto nem ímpeto que me descolasse da parede e me atirasse a ela com mil palavras cálidas e mimosas...Não mofes dos meus quinze anos, leitor precoce. Com dezessete, Des Grieux (e mais era Des Grieux) não pensava ainda na diferença dos sexos.

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